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Descubra o essencial sobre o Zohar e a Cabala: perguntas frequentes sobre os mundos espirituais, letras hebraicas e os segredos da Torá.
Perguntas e respostas sobre a Cabala e o Zohar para quem busca compreender os mistérios da criação, da alma e da união com o Divino.
O Zohar é a obra central da Cabalá, composta entre os séculos XIII e XIV, redigida majoritariamente em aramaico místico. Estruturado como um comentário esotérico sobre a Torá, ele combina exegese bíblica, simbolismo teosófico e especulação mística. O texto atribui-se ao sábio do século II, Rabi Shimon bar Yoḥai, mas a crítica acadêmica moderna, especialmente a partir de Gershom Scholem, considera que sua redação principal se deu pelas mãos de Rabi Moisés de León, na Espanha medieval. O Zohar apresenta conceitos centrais como as sefirot, o Ein Sof (Infinito), a estrutura das almas, e os caminhos espirituais da união com o divino.
Referências:
Scholem, Gershom. Major Trends in Jewish Mysticism, Schocken, 3ª ed., 1961, cap. VIII, pp. 165–180.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, Littman Library, vol. I, Introdução Geral, pp. 1–25.
Matt, Daniel C. (trad.). The Zohar: Pritzker Edition, Stanford University Press, vol. I, Introdução, pp. xxx–xl.
Embora o Zohar se apresente como obra de Rabi Shimon bar Yoḥai (séc. II), a pesquisa histórica liderada por Gershom Scholem demonstrou que ele foi composto na Espanha por volta do fim do século XIII, principalmente por Rabi Moisés de León. Estudos filológicos e comparativos indicam que sua linguagem, estrutura e temática refletem o ambiente cabalístico medieval. Yehuda Liebes sugere que o texto pode ter tido múltiplos autores ou redatores.
Referências:
Scholem, Gershom. Major Trends in Jewish Mysticism, Schocken, 3ª ed., 1961, cap. VIII, pp. 170–174.
Liebes, Yehuda. Studies in the Zohar, SUNY Press, 1993, cap. II, “Authorship and Dating”, pp. 45–67.
Idel, Moshe. Kabbalah: New Perspectives, Yale University Press, 1988, seção “Moses de León and the Zohar”, pp. 90–95.
Cabalá é o nome dado à tradição mística judaica que visa compreender e experimentar os aspectos ocultos da realidade divina. Desenvolvida a partir do século XII, embora com raízes mais antigas, ela propõe uma estrutura do cosmos fundamentada nas sefirot, canais de manifestação do divino. A Cabalá abrange doutrinas teosóficas, práticas devocionais e sistemas contemplativos.
Referências:
Idel, Moshe. Kabbalah: New Perspectives, Yale University Press, 1988, Introdução, pp. 1–20.
Dan, Joseph. Early Kabbalah, Paulist Press, 2006, cap. 1, “Origins of Medieval Kabbalah”, pp. 5–30.
Wolfson, Elliot R. Through a Speculum That Shines, Princeton University Press, 1994, Introdução, pp. x–xx.
A Cabalá visa permitir ao ser humano acessar os mistérios do divino, compreender a estrutura espiritual da criação e participar ativamente do tikun (retificação) do mundo. Para os cabalistas, o estudo e a prática da Cabalá conduzem à união com o Criador, ao aprimoramento ético e à elevação da alma.
Referências:
Matt, Daniel C. The Essential Kabbalah, HarperOne, 1995, cap. 3, “Union with the Divine”, pp. 45–60.
Green, Arthur. A Guide to the Zohar, Stanford University Press, 2004, cap. 2, “Spiritual Practice”, pp. 30–50.
Vital, Chaim. Sha’ar HaHakdamot, parte I, pp. 10–25.
O Zohar foi escrito majoritariamente em aramaico artificial, conhecido como "aramaico zohárico", uma língua literária criada para conferir ao texto uma aura de antiguidade. Há também passagens em hebraico, especialmente nas seções legais ou haggádicas. A linguagem do Zohar combina elementos de diferentes dialetos aramaicos, não correspondendo a nenhum falado historicamente.
Referências:
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. II, cap. “Language and Style”, pp. 64–68.
Scholem, Gershom. Major Trends in Jewish Mysticism, Schocken, 3ª ed., 1961, cap. VIII, pp. 172–174.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, Stanford University Press, vol. I, Notas introdutórias, pp. xl–xlii.
Sim, no sentido acadêmico. A obra é considerada pseudepigráfica por ter sido atribuída a um mestre antigo (Rabi Shimon bar Yoḥai), embora tenha sido redigida muitos séculos depois. Essa prática era comum em escritos místicos e apocalípticos, conferindo autoridade a novos ensinamentos sob o nome de figuras veneradas.
Referências:
Scholem, Gershom. Major Trends in Jewish Mysticism, Schocken, 3ª ed., 1961, cap. VIII, pp. 170–174.
Liebes, Yehuda. Studies in the Zohar, SUNY Press, 1993, cap. II, pp. 45–67.
Dan, Joseph. Early Kabbalah, Paulist Press, 2006, cap. 1, pp. 20–30.
“Ayin” (nada) e “Yesh” (algo) representam os polos metafísicos da criação na Cabalá. Tudo o que existe (Yesh) procede do nada aparente (Ayin), que é uma referência indireta ao Ein Sof (Infinito). Esses termos expressam a passagem do incognoscível para o manifestado e sustentam a doutrina da criação ex nihilo.
Referências:
Cordovero, Moshe. Pardes Rimonim, Gate VII, seção “Yesh me-Ayin”.
Luzzatto, Moshe Chaim. Da’at Tevunot, tratado sobre criação ex nihilo, pp. 10–20.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, Stanford University Press, vol. I, Introdução, pp. xx–xxii.
As sefirot são dez emanações ou atributos através dos quais o Ein Sof interage com a criação. Elas representam aspectos divinos como sabedoria, misericórdia e justiça. Estruturadas em três tríades e uma base, constituem a “Árvore da Vida” e são usadas como modelo do cosmos e da alma humana.
Referências:
Cordovero, Moshe. Pardes Rimonim, abertura e Gate I, pp. 1–15.
Vital, Chaim. Etz Chaim, Gate II, descrição das Dez Sefirot, pp. 20–45.
Idel, Moshe. Kabbalah: New Perspectives, Yale University Press, 1988, cap. 2, pp. 50–75.
Não, o Zohar propõe uma leitura mística e profunda da Torá, baseada nos quatro níveis de interpretação (Peshat, Remez, Derash, Sod – PaRDeS). Ele não contradiz, mas transcende o sentido literal, revelando camadas ocultas e espirituais. A exegese zohárica busca unir a alma da Torá ao seu corpo textual.
Referências:
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, Stanford University Press, vol. I, Introdução, pp. xxii–xxv.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, Littman Library, vol. I, Introdução, pp. 1–20.
Dan, Joseph. Early Kabbalah, Paulist Press, 2006, cap. 3, “Zohar and Hermeneutics”, pp. 60–85.
Historicamente, a Cabalá era restrita a homens judeus acima de 40 anos, casados e versados no Talmud. No entanto, desde o século XX, muitos mestres suavizaram essas exigências, permitindo o acesso a estudantes sinceros e comprometidos. Ainda assim, o estudo da Cabalá exige seriedade, humildade, e orientação adequada.
Referências:
Vital, Chaim. Sha’ar HaHakdamot, seção “Pré-requisitos para Estudo”, pp. 15–30.
Kook, Avraham Yitzhak. Orot HaKodesh, compilações póstumas, “Critérios para o Estudo da Cabalá”, pp. 5–15.
Ashlag, Yehuda. Introdução ao Sulam, pp. 3–10.
A Cabalá Teórica (ou especulativa) lida com a estrutura do cosmos, as sefirot, os mundos espirituais e a natureza da alma, sendo representada por obras como o Zohar, o Etz Chaim e o Pardes Rimonim. Já a Cabalá Prática (Kabbalah Ma’asit) envolve técnicas operacionais como nomes divinos, combinações de letras, amuletos e rituais com objetivos espirituais ou protetivos. Esta última sempre foi mais restrita, exigindo pureza, conhecimento e supervisão rabínica rigorosa.
Referências:
Scholem, Gershom. Kabbalah, Keter Publishing, 1974, seção “Practical Kabbalah”, pp. 183–205.
Idel, Moshe. The Mystical Experience in Abraham Abulafia, SUNY Press, 1988, cap. 4, pp. 90–112.
Dan, Joseph. Jewish Mysticism and Magic, JPS, 1999, cap. 2, pp. 35–58.
Ein Sof (אין סוף), que significa literalmente "Sem Fim", é a designação cabalística para o aspecto absoluto e ilimitado de Deus antes de qualquer emanação. É incognoscível, infinito e transcende toda descrição ou atributo. As sefirot são manifestações do Ein Sof, mas Ele mesmo permanece além da percepção e da linguagem humana.
Referências:
Cordovero, Moshe. Pardes Rimonim, Gate 1, seção “Sobre o Ein Sof”, pp. 1–10.
Matt, Daniel C. The Essential Kabbalah, HarperOne, 1995, cap. 2, “Ein Sof”, pp. 25–35.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, Littman Library, vol. I, seção “The Nature of Ein Sof”, pp. 80–95.
A Cabalá clássica ensina que existem quatro mundos espirituais que representam estágios da emanação divina: Atzilut (Emanação), Beriyah (Criação), Yetzirah (Formação) e Asiyah (Ação). Esses mundos refletem a descida da luz divina desde o Ein Sof até a realidade material, permitindo a comunicação entre o divino e o humano.
Referências:
Vital, Chaim. Etz Chaim, Shaar HaHakdamot, cap. 1–2, pp. 10–35.
Idel, Moshe. Kabbalah: New Perspectives, Yale University Press, 1988, seção “Worlds and Emanation”, pp. 60–78.
Ashlag, Yehuda. Preface to the Tree of Life, pp. 4–18.
Tikun (תיקון), ou retificação, é o processo espiritual pelo qual o ser humano coopera com o divino para reparar imperfeições no cosmos. Segundo a Cabalá lurianista, após a Shevirat HaKelim (quebra dos vasos), faíscas de santidade ficaram aprisionadas no mundo material. O tikun consiste em resgatá-las por meio de mitsvot, estudo, oração e intenções elevadas (kavanot).
Referências:
Luria, Isaac. Etz Chaim, Shaar HaShevirah e Shaar HaTikun, pp. 120–160.
Green, Arthur. A Guide to the Zohar, Stanford University Press, 2004, cap. 4, pp. 65–80.
Scholem, Gershom. Major Trends in Jewish Mysticism, Schocken, 3ª ed., 1961, cap. IX, pp. 230–250.
Sim. O Zohar é uma coletânea composta de diversos tratados e seções, incluindo o Zohar sobre a Torá (dividido por parashot), o Sifra de-Tseniuta (Livro do Oculto), Idra Rabba e Idra Zuta, Raya Mehemna (O Pastor Fiel), e Tikkunei Zohar, que consiste em 70 interpretações do termo “Bereshit”. Cada parte possui estilo e conteúdo distintos, refletindo múltiplas camadas de redação.
Referências:
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. I, seção “Structure of the Zohar”, pp. 30–55.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. I, Introdução Geral, pp. xxv–xxviii.
Liebes, Yehuda. Studies in the Zohar, SUNY Press, 1993, cap. I, pp. 1–40.
Sitra Achra (סטרא אחרא), “o outro lado”, é a designação cabalística para as forças do mal, que representam a polaridade oposta à santidade. Não é o mal absoluto, mas uma dimensão que deriva da separação da luz divina. O Sitra Achra atua onde há ausência de tikun e consciência divina, sendo simbolizado pelas kelipot (cascas impuras).
Referências:
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, Stanford University Press, vol. II, comentário ao Zohar III:47b.
Vital, Chaim. Etz Chaim, Shaar Klipot e Sitra Achra, pp. 300–325.
Scholem, Gershom. Kabbalah, Keter Publishing, 1974, seção “The Other Side”, pp. 230–245.
Embora o judaísmo rabínico tenha sido cauteloso com a astrologia, a Cabalá medieval incorporou elementos astrológicos como parte da estrutura do cosmos. Certas sefirot e nomes divinos foram associados a planetas, signos e horas específicas, especialmente na Cabalá prática. No entanto, essas correspondências visam alinhar o microcosmo humano ao macrocosmo divino, não à adivinhação.
Referências:
Idel, Moshe. The Golem: Jewish Magical and Mystical Traditions on the Artificial Anthropoid, SUNY Press, 1990, pp. 65–72.
Dan, Joseph. Jewish Mysticism and Astrology, JPS, 2002, cap. 3, pp. 75–98.
Scholem, Gershom. Kabbalah, Keter Publishing, 1974, seção “Stars and Mysticism”, pp. 210–220.
Sim. A doutrina da reencarnação (gilgul neshamot) é central na Cabalá lurianista. A alma humana pode reencarnar múltiplas vezes para completar tikunim não realizados. Este processo é visto como instrumento de misericórdia divina, permitindo à alma reparar falhas anteriores e alcançar sua retificação total.
Referências:
Vital, Chaim. Shaar HaGilgulim, introdução e cap. 1–3, pp. 1–30.
Idel, Moshe. Reincarnation in Jewish Mysticism and Gnosticism, Yale University Press, 1990, cap. 2, pp. 40–70.
Scholem, Gershom. Major Trends in Jewish Mysticism, cap. IX, pp. 255–270.
Não. Embora existam elementos operativos na Cabalá prática, a Cabalá como um todo é uma teosofia mística, não uma forma de magia. A confusão decorre do uso de nomes divinos, símbolos e kavanot que, superficialmente, podem parecer mágicos. No entanto, o objetivo da Cabalá é a união com o divino e a transformação espiritual, não o controle de forças sobrenaturais.
Referências:
Wolfson, Elliot R. Language, Eros, Being: Kabbalistic Hermeneutics, Fordham University Press, 2005, cap. 1, pp. 10–35.
Scholem, Gershom. Kabbalah, seção “Practical Kabbalah vs. Magic”, pp. 190–205.
Idel, Moshe. Absorbing Perfections, Yale University Press, 2002, cap. 6, pp. 220–245.
Não. O Zohar é altamente reverenciado em círculos místicos, especialmente entre os judeus sefarditas, chassídicos e cabalistas. No entanto, algumas correntes do judaísmo racionalista, como o judaísmo reformista ou certas escolas litvak (mitnagdím), mostraram ceticismo quanto à sua autenticidade histórica e à validade de suas interpretações esotéricas. Ainda assim, o Zohar é uma das obras mais influentes da tradição judaica.
Referências:
Scholem, Gershom. Major Trends in Jewish Mysticism, cap. VIII, pp. 160–180.
Idel, Moshe. Kabbalah: New Perspectives, cap. 6, pp. 135–150.
Huss, Boaz. “Ask No Questions: Gershom Scholem and the Study of Contemporary Jewish Mysticism”, in: Modern Judaism, vol. 25, no. 2, 2005, pp. 141–158.
A Árvore da Vida (Etz Chaim) é o diagrama simbólico que organiza as dez sefirot em três colunas ou pilares — da misericórdia, do rigor e do equilíbrio — conectando os mundos espirituais ao mundo material. Ela serve como mapa metafísico da criação e como estrutura interna da alma humana, orientando a ascensão espiritual por meio da integração dos atributos divinos.
Referências:
Cordovero, Moshe. Pardes Rimonim, Gate I, seção “Sobre a Estrutura das Sefirot”, pp. 12–30.
Vital, Chaim. Etz Chaim, introdução e Gate II, pp. 1–35.
Matt, Daniel C. The Essential Kabbalah, HarperOne, 1995, cap. 4, “The Tree of Life”, pp. 40–55.
Partzufim (“Rostos” ou “Configurações”) são estruturas complexas que organizam as sefirot em entidades dinâmicas e funcionais. Na Cabalá de Rabi Isaac Luria, os cinco principais partzufim — Arikh Anpin, Abba, Imma, Zeir Anpin e Nukva — representam modos de atuação do divino nos processos cósmicos e na alma. Eles são fundamentais na teologia lurianista para explicar a restauração após a quebra dos vasos.
Referências:
Vital, Chaim. Etz Chaim, Gate IV, “Partzufim”, pp. 70–110.
Fine, Lawrence. Physician of the Soul, Healer of the Cosmos, Stanford University Press, 2003, cap. 3, pp. 75–115.
Idel, Moshe. Kabbalah: New Perspectives, cap. 5, pp. 120–135.
A Shechiná é a presença imanente de Deus no mundo, associada à sefirá de Malchut. No Zohar, ela é descrita como a “Rosa entre os Espinhos” (Shir Hashirim 2:2), simbolizando a Divindade no exílio, que acompanha Israel em sua jornada histórica. A união entre Zeir Anpin e Shechiná é vista como objetivo da espiritualidade, alcançada por meio das mitsvot e do estudo místico.
Referências:
Zohar I:1a–2a, comentário sobre a shoshaná.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. I, Introdução, pp. xxiii–xxviii.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. II, seção “Shechinah”, pp. 150–165.
A linguagem do Zohar é deliberadamente velada, poética e simbólica. Utiliza metáforas, jogos de palavras em aramaico, interpretações midráshicas e imagética erótica ou cósmica para transmitir realidades espirituais. Essa opacidade é intencional, visando proteger os segredos esotéricos dos leitores despreparados e estimular a meditação nos iniciados.
Referências:
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. I, Introdução, pp. xxxv–xli.
Wolfson, Elliot R. Through a Speculum That Shines, Princeton University Press, 1994, cap. 3, pp. 85–110.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. I, seção “Style and Symbolism”, pp. 50–72.
O Sifra de-Tseniuta (“Livro do Oculto”) é uma das seções mais enigmáticas do Zohar, atribuída a Rabi Shimon bar Yoḥai. Ele apresenta uma cosmologia condensada e altamente simbólica, com interpretações esotéricas do Gênesis. Essa obra serve como base para os comentários mais desenvolvidos nas Idrot e influenciou profundamente a Cabalá lurianista.
Referências:
Zohar II:176b–179a, Sifra de-Tseniuta.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. III, seção “Sifra de-Tseniuta”, pp. 975–1002.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. IX, Introdução ao Sifra, pp. xxi–xxix.
A Idra Rabba (“Grande Assembleia”) é uma seção narrativa do Zohar em que Rabi Shimon e seus discípulos se reúnem para revelar segredos supremos sobre a Divindade, especialmente sobre os aspectos ocultos de Arikh Anpin. A atmosfera é solene e intensa, marcada por morte mística de alguns discípulos devido à revelação. É considerada um dos ápices do Zohar.
Referências:
Zohar III:127b–145a, Idra Rabba.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. VIII, Introdução à Idra Rabba, pp. xxi–xxxii.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. III, seção “Idra Rabba”, pp. 1010–1035.
Os Tikkunei Zohar são uma coleção de setenta interpretações místicas da palavra “Bereshit” (Gênesis 1:1), com foco especial na figura de Malchut, na Shechiná e na estrutura das sefirot. Escritos em estilo diferente do Zohar principal, eles incluem referências ocultistas, nomes divinos e ênfases messiânicas, tendo sido altamente valorizados por cabalistas posteriores como Rabi Isaac Luria.
Referências:
Tikkunei Zohar, ed. Vilna, Introdução e Tikunim 1–5.
Scholem, Gershom. Kabbalah, seção “Tikkunei Zohar”, pp. 220–225.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. X, Introdução ao Tikkunei Zohar, pp. xxi–xxxvi.
Sim. O Zohar contém inúmeras referências ao Mashiach (Messias), especialmente no contexto da redenção final, da união entre os mundos superiores e inferiores e da restauração da Shechiná. Ele fala de duas figuras messiânicas: Mashiach ben David e Mashiach ben Yosef, e associa a vinda do redentor à revelação dos segredos ocultos da Torá.
Referências:
Zohar I:117a–b, III:153b–155a.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. III, seção “Messianic Ideas”, pp. 1230–1255.
Idel, Moshe. Messianic Mystics, Yale University Press, 1998, cap. 4, pp. 135–150.
Zeir Anpin (“Rosto Pequeno”) é uma das configurações divinas que integra seis sefirot intermediárias — de Chesed a Yesod — representando o aspecto masculino e revelado de Deus. Ele é frequentemente descrito como o “Rei”, esposo da Shechiná. Sua união com Malchut simboliza a harmonia espiritual e é central no serviço místico diário e no tikun cósmico.
Referências:
Vital, Chaim. Etz Chaim, Gate III, “Zeir Anpin”, pp. 50–75.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. I, comentário ao Zohar I:13b–14a.
Scholem, Gershom. Kabbalah, seção “Zeir Anpin”, pp. 205–210.
Embora a Cabalá e a ciência moderna operem em paradigmas diferentes, alguns estudiosos tentaram encontrar paralelos entre conceitos cabalísticos e ideias da física contemporânea, como multidimensionalidade, energia potencial e teoria do caos. No entanto, tais comparações devem ser feitas com cautela, evitando anacronismos e simplificações que distorçam ambas as disciplinas.
Referências:
Berg, Philip. Kabbalah for the Layman, Research Centre of Kabbalah, 1981, cap. 3, pp. 45–60.
Garfinkel, Simcha. The Quantum Kaballah, Inner Light Publishing, 1994, Introdução, pp. 1–20.
Brill, Alan. Thinking God: The Mysticism of Rabbi Zadok of Lublin, Yeshiva University Press, 2002, cap. 7, pp. 180–195.
Segundo a tradição mística judaica, o Zohar foi revelado ao sábio tannaíta Rabi Shimon bar Yoḥai (séc. II) durante seu exílio na caverna de Peki’in, na Galileia, enquanto se escondia da perseguição romana. Lá, com a ajuda de seu filho Elazar, ele teria recebido revelações angélicas e compôs os ensinamentos secretos que mais tarde formariam o núcleo do Zohar. Essa versão é aceita em círculos místicos, embora questionada pela crítica acadêmica moderna.
Referências:
Zohar I:11b–12a, narrativa sobre Rabi Shimon na caverna.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. I, seção “Legend of Rabbi Shimon bar Yochai”, pp. 12–18.
Scholem, Gershom. Major Trends in Jewish Mysticism, cap. VIII, pp. 165–168.
A Idra Zuta (“Pequena Assembleia”) é uma seção do Zohar que descreve os momentos finais de Rabi Shimon bar Yoḥai. Reunido com seus discípulos, ele revela segredos supremos da divindade antes de morrer, rodeado de luz e êxtase espiritual. O texto tem um tom elevado, de despedida e culminância, e é considerado o clímax místico da narrativa zohárica.
Referências:
Zohar III:287b–296b, Idra Zuta.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. XII, Introdução à Idra Zuta, pp. xxi–xxix.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. III, seção “Idra Zuta”, pp. 1035–1050.
Ra‘aya Mehemna (“O Pastor Fiel”) é uma parte do Zohar composta como uma série de revelações proféticas em que Moisés aparece como mestre esotérico, explicando os mistérios da Torá, os segredos das mitsvot e as estruturas espirituais do universo. A obra reforça a centralidade do cumprimento prático da Torá como expressão do mundo oculto das sefirot.
Referências:
Zohar III:152a–256b, Ra‘aya Mehemna.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. IX, Introdução ao Ra‘aya Mehemna, pp. xx–xxxv.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. II, seção “The Faithful Shepherd”, pp. 680–720.
Embora o Zohar seja uma obra judaica, composta num ambiente plural (Espanha medieval), alguns estudiosos identificam ecos de temas cristãos, islâmicos e gnósticos, como a presença de figuras mediadoras, interpretações messiânicas e a linguagem do mistério. No entanto, tais elementos foram absorvidos e reformulados dentro de uma estrutura cabalística autêntica, sem sincretismo explícito.
Referências:
Scholem, Gershom. Origins of the Kabbalah, Princeton University Press, 1987, cap. VII, pp. 330–355.
Idel, Moshe. Kabbalah and Eros, Yale University Press, 2005, cap. 2, pp. 40–65.
Huss, Boaz. Zohar: Reception and Impact, Littman Library, 2016, cap. 3, pp. 60–75.
Alguns estudiosos apontam paralelos entre o Zohar e correntes gnósticas antigas, como a ideia de emanações divinas, dualismo entre luz e trevas, e o papel do conhecimento (da‘at) como salvação. No entanto, diferentemente do gnosticismo clássico, o Zohar valoriza o mundo material como palco da retificação (tikun) e não como criação de um demiurgo maligno, mantendo-se firmemente dentro do monoteísmo judaico.
Referências:
Scholem, Gershom. Jewish Gnosticism, Merkabah Mysticism, and Talmudic Tradition, JTS, 2ª ed., 1965, pp. 20–35.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. II, seção “Light and Darkness”, pp. 700–725.
Jonas, Hans. The Gnostic Religion, Beacon Press, 1958, cap. 9 (para contraste conceitual).
Sim. O Zohar oferece um sistema hierárquico de anjos que servem como mensageiros divinos e executores das forças espirituais das sefirot. Também apresenta entidades demoníacas associadas ao Sitra Achra e às kelipot, como Samael e Lilith. Essas figuras não são autônomas, mas expressam distorções da luz divina em contextos de desequilíbrio.
Referências:
Zohar I:19a–20b, passagens sobre Samael e Lilith.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. I, notas sobre anjos e forças impuras, pp. lxx–lxxiv.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. III, seção “Angels and Demons”, pp. 1100–1135.
Sim. O Zohar descreve o corpo humano como imagem do cosmos, refletindo a estrutura das sefirot. Órgãos como o coração, cérebro, olhos e órgãos sexuais são associados a atributos divinos. Essa visão antropocósmica liga micro e macrocosmo e serve de base para meditações e interpretações místicas do corpo como templo da presença divina.
Referências:
Zohar I:50b–51b, analogias entre corpo e sefirot.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. II, comentário ao Zohar I:51.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. II, seção “The Human Body”, pp. 800–820.
Na Cabalá, os Nomes Divinos não são meros rótulos, mas expressões vivas das energias divinas. Cada nome — como YHVH, Elohim, Ehyeh, Shaddai — corresponde a uma sefirá ou função cósmica específica. O Zohar explora suas permutações, combinações e significados ocultos, considerando-os ferramentas para elevar a consciência e gerar transformação espiritual.
Referências:
Zohar II:90b–91a, sobre os Nomes Sagrados.
Cordovero, Moshe. Pardes Rimonim, Gate IX, “Sobre os Nomes Divinos”, pp. 100–130.
Scholem, Gershom. Kabbalah, seção “The Divine Names”, pp. 80–100.
As letras hebraicas são consideradas forças criadoras e elementos constitutivos da realidade. Cada letra possui forma, som, valor numérico (guematria) e significado simbólico. No Zohar, há passagens em que as letras “discutem” entre si quem será a primeira da criação. A meditação sobre letras é uma prática central em algumas escolas cabalísticas.
Referências:
Zohar I:2a–2b, “Diálogo das Letras”.
Matt, Daniel C. The Essential Kabbalah, cap. 1, “Mystical Alphabet”, pp. 1–20.
Idel, Moshe. The Mystical Experience in Abraham Abulafia, cap. 5, pp. 115–135.
O movimento chassídico, fundado no século XVIII por Rabi Israel Baal Shem Tov, incorporou profundamente a linguagem e os conceitos do Zohar. A ideia de divindade imanente, de servir a Deus com alegria e de encontrar santidade em todas as ações cotidianas tem raízes zoháricas. A ênfase na devoção emocional e na percepção espiritual direta reflete o legado místico do Zohar.
Referências:
Green, Arthur. Tormented Master: The Life and Spiritual Quest of Rabbi Nahman of Bratslav, University of Alabama Press, 1979, cap. 2, pp. 25–50.
Scholem, Gershom. Major Trends in Jewish Mysticism, cap. X, “Hasidism”, pp. 340–375.
Idel, Moshe. Hasidism: Between Ecstasy and Magic, SUNY Press, 1995, cap. 3, pp. 70–98.
Adam Kadmon é a mais elevada das configurações metafísicas na Cabalá lurianista, representando o primeiro ser emanado do Ein Sof após o tsimtsum (contração divina). Ele não é um ser humano literal, mas um modelo arquetípico que contém em si todas as sefirot em forma potencial e serve como molde espiritual do universo e da humanidade. Seu “corpo” simboliza os canais originais da luz divina.
Referências:
Vital, Chaim. Etz Chaim, Shaar Adam Kadmon, pp. 40–60.
Scholem, Gershom. Kabbalah, seção “Adam Kadmon”, pp. 140–150.
Idel, Moshe. Kabbalah: New Perspectives, cap. 3, pp. 80–95.
Tsimtsum (צמצום), “contração”, é o processo pelo qual o Ein Sof retraiu Sua luz para “criar espaço” para a existência do mundo. Esse conceito central na Cabalá lurianista explica como o Infinito pôde dar origem a uma realidade finita. O tsimtsum é entendido tanto literalmente (como retração real) quanto simbolicamente (como ocultação da presença divina).
Referências:
Luria, Isaac. Etz Chaim, Shaar HaTsimtsum, pp. 1–30.
Matt, Daniel C. The Essential Kabbalah, HarperOne, 1995, cap. 5, pp. 55–65.
Fine, Lawrence. Physician of the Soul, Stanford University Press, 2003, cap. 2, pp. 45–60.
Shevirat HaKelim (שבירת הכלים), ou “quebra dos vasos”, é a catástrofe primordial descrita na Cabalá lurianista, na qual os vasos que deveriam conter a luz divina não resistiram à sua intensidade e se romperam. Suas faíscas caíram nos mundos inferiores, dando origem à imperfeição e ao mal. Esse evento exige o tikun — a retificação do cosmos por meio da ação humana.
Referências:
Vital, Chaim. Etz Chaim, Shaar HaShevirah, pp. 80–120.
Scholem, Gershom. Major Trends in Jewish Mysticism, cap. IX, pp. 220–245.
Idel, Moshe. Kabbalah: New Perspectives, cap. 6, pp. 150–165.
O Zohar interpreta o Gênesis (Bereshit) como um texto codificado, repleto de simbolismo esotérico. Cada palavra é lida à luz das sefirot, dos mundos espirituais e das configurações divinas. A criação é vista como emanação progressiva, e personagens bíblicos são compreendidos como arquétipos místicos. O versículo “Bereshit bara Elohim” é desdobrado em múltiplas leituras cabalísticas.
Referências:
Zohar I:15a–22a, comentários sobre Bereshit.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. I, Introdução, pp. xxx–xlv.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. I, seção “Exegesis of Genesis”, pp. 85–120.
Da’at (דעת), “conhecimento”, não é uma sefirá formal, mas uma dimensão oculta que emerge da união entre Chochmah (sabedoria) e Binah (entendimento). Representa a consciência integradora que possibilita a conexão entre os mundos superiores e inferiores. Da’at está associada à consciência messiânica e ao conhecimento espiritual superior.
Referências:
Cordovero, Moshe. Pardes Rimonim, Gate IV, seção “Sobre Da’at”, pp. 50–60.
Matt, Daniel C. The Essential Kabbalah, cap. 7, pp. 85–90.
Wolfson, Elliot R. Through a Speculum That Shines, cap. 5, pp. 135–155.
O Zohar Chadash (“Novo Zohar”) é uma coleção complementar ao Zohar principal, contendo textos descobertos posteriormente ou atribuídos a outras tradições místicas. Inclui comentários sobre livros da Torá não abordados no Zohar original (como Meguilat Ruth e Shir HaShirim), bem como passagens místicas e midráshicas paralelas. É considerado parte do corpus zohárico.
Referências:
Zohar Chadash, ed. Vilna, Introdução geral.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. III, seção “Zohar Chadash”, pp. 1055–1065.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. XII, apêndice sobre o Zohar Chadash.
Sim. O Zohar ensina que a alma humana é composta de múltiplas camadas: nefesh (vitalidade), ruach (espírito) e neshamá (alma superior), além de níveis mais elevados como chayah e yechidah. Cada camada corresponde a um mundo espiritual e uma função. A evolução da alma está ligada à pureza moral e ao estudo místico.
Referências:
Zohar I:206b–208a, sobre os níveis da alma.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. V, notas ao Zohar I:208.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. II, seção “The Soul”, pp. 880–910.
Ibur Neshamot (עיבור נשמות), ou “gestação de almas”, é uma doutrina segundo a qual almas justas podem temporariamente “habitar” ou “incubar-se” em outra pessoa viva para ajudá-la espiritualmente ou completar uma missão. É diferente da reencarnação (gilgul), pois não substitui a alma original, mas a acompanha por um período.
Referências:
Vital, Chaim. Shaar HaGilgulim, caps. 4–6, pp. 30–55.
Scholem, Gershom. Kabbalah, seção “Soul Transmigration”, pp. 330–340.
Idel, Moshe. Kabbalah and Reincarnation, Yale University Press, 1999, cap. 4, pp. 95–110.
Sim. O Zohar vê a oração como um processo cósmico que afeta os mundos superiores. As palavras da tefilá ativam as sefirot e provocam união entre os aspectos masculino e feminino da divindade. A kavvaná (intenção mística) é essencial: o orante deve meditar nas letras, nomes e estruturas espirituais que sustentam a oração.
Referências:
Zohar II:201a–204b, comentários sobre oração.
Matt, Daniel C. The Zohar: Pritzker Edition, vol. VI, notas sobre oração.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. II, seção “Prayer and Kavvanah”, pp. 650–685.
No Zohar, o feminino é representado principalmente pela sefirá de Malchut e pela Shechiná. Embora em geral associado à receptividade, o feminino também aparece como potência espiritual ativa. A mulher é vista como participante na dinâmica cósmica, e a união sexual — quando realizada com santidade — é descrita como paralela à união entre as sefirot. No entanto, o papel da mulher no estudo era limitado historicamente, com exceções nas escolas místicas mais abertas.
Referências:
Zohar I:49b–50a, sobre feminino e Malchut.
Wolfson, Elliot R. Circle in the Square: Studies in the Use of Gender in Kabbalistic Symbolism, SUNY Press, 1995, cap. 1–2.
Tishby, Isaiah. The Wisdom of the Zohar, vol. II, seção “The Female Principle”, pp. 720–750.