Zohar Explicado
Zohar Explicado é uma página dedicada à interpretação detalhada do Zohar à luz dos comentaristas clássicos da Cabala. Explore o simbolismo místico, a estrutura das sefirot e os segredos esotéricos da Torá revelados verso por verso.
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Zohar Explicado é uma página dedicada à interpretação detalhada do Zohar à luz dos comentaristas clássicos da Cabala. Explore o simbolismo místico, a estrutura das sefirot e os segredos esotéricos da Torá revelados verso por verso.
Zohar Explicado: Prólogo — interpretação elaborada por Elizeu A.S., baseada nos antigos cabalistas. Aprofundamento sobre Malkhut, a shoshaná e os segredos da Criação.
Explicação aprofundada com base nos comentaristas clássicos:
A abertura de Rabi Chizkiyah com a imagem da shoshaná entre os espinhos revela, à luz dos comentários, uma representação profundamente simbólica da sefirá de Malkhut, também chamada de Knesset Yisrael. Segundo o Ketem Paz, a verdadeira shoshaná vinculada à Malkhut contém exatamente treze pétalas internas e cinco pétalas externas, que representam, respectivamente, os treze atributos de misericórdia e as cinco forças de ocultação associadas às kelipot (cascas ou forças impuras). Essas pétalas externas ora ocultam, ora revelam as internas, dependendo do estado espiritual de Israel. Quando os filhos de Israel são meritórios, essas kelipot se abrem, permitindo a revelação das bênçãos espirituais, e os portões da salvação se escancaram. Do contrário, fecham-se, impedindo a passagem da oração e o influxo divino. O comentarista ressalta ainda que esse modelo de treze pétalas internas mais cinco externas é o arquétipo original da flor mística, que não foi corrompido por cruzamentos e adulterações como as flores modernas, comparando essa integridade com o estado não contaminado da Knesset Yisrael.
Mikdash Melekh, alinhando-se ao ensinamento do Arizal, associa a shoshaná ao segredo de Ester (אסתר), cujo nome partilha a mesma guematria, e a identifica com o ponto oculto da Malkhut no início da criação. Ela é, por isso, oculta e rodeada de espinhos, os quais simbolizam as forças de severidade. Ao mesmo tempo, ensina que embora a estrutura básica da Nukva (Malkhut) seja fundada sobre Din (juízo), ela também é composta de ḥasadim (misericórdias), absorvidos dos canais inferiores de Neẓaḥ e Hod de Ze’er Anpin. Assim, a flor manifesta tanto julgamento quanto compaixão.
A estrutura de treze meḥilin de-raḥamei é explicada por Mikdash Melekh à luz da cerimônia de Ḥanucá, onde a luz do candelabro representa a iluminação de Malkhut com essas treze qualidades de misericórdia derivadas de Ima (Biná). As bênçãos sacerdotais, com suas treze letras Yod, nove letras Vav e seis letras Heh, remetem à transferência das luzes superiores até a Shechiná. Isso reforça o vínculo da flor mística com o nome Elohim, pois entre a primeira menção de Elohim (em Bereshit 1:1) e a seguinte (em Bereshit 1:2), há precisamente treze palavras — o que, segundo o Zohar, simboliza a proteção da Congregação de Israel.
Já Ohr HaChammah analisa a aparente contradição nas fontes sobre a quantidade de pétalas — ora treze, ora cinco — e resolve a questão distinguindo entre os aspectos internos e externos da flor. As cinco pétalas representam as sefirot Ḥesed, Gevurah, Tiferet, Neẓaḥ e Hod, enquanto as treze pétalas internas correspondem aos treze atributos de misericórdia que a rodeiam espiritualmente. Essa dualidade ilustra o equilíbrio da Malkhut entre revelação e ocultamento, sendo os espinhos os aspectos de severidade e as pétalas os aspectos de graça.
O Sulam organiza essas ideias dentro da estrutura dos partzufim, explicando que a shoshaná representa a Nukva de Ze’er Anpin em dois estados: katnut (imaturidade), no qual suas nove sefirot inferiores descem a Beriá e resta apenas o Keter em Atzilut; e gadlut (maturidade), quando essas sefirot retornam e se unem a Ze’er Anpin, formando o partzuf completo. A tonalidade vermelha da flor simboliza a presença dos julgamentos nos estados inferiores, enquanto o branco se refere ao Keter iluminado com misericórdia. A união dos dois — vermelho e branco — manifesta o equilíbrio entre julgamento e misericórdia. As treze palavras entre as duas menções do nome Elohim apontam para os treze atributos de misericórdia que envolvem a Malkhut, protegendo-a da influência das forças externas. Essas treze palavras são equiparadas ao “mar de Shlomo” sustentado por doze bois, com a bacia superior simbolizando o Keter e as doze sefirot inferiores correspondendo aos bois.
Yahel Ohr complementa afirmando que a flor vermelha, inicialmente fechada, transforma-se em branca com toques vermelhos ao se abrir, simbolizando a transição de Malkhut de um estado oculto para um estado receptivo. Os treze atributos são entendidos como uma função da posição da Malkhut como Keter de um partzuf inferior, recebendo diretamente de Biná. A cor vermelha remete ao Din, mas, ao ser misturada ao branco, revela a dinâmica do fluxo espiritual interno e externo. Ainda, as cinco pétalas duras (עלין תקיפין) que rodeiam as pétalas suaves correspondem aos cinco aspectos de Gevurah que limitam os canais da misericórdia.
Síntese geral :
O primeiro verso do Zohar, com a imagem da shoshaná entre os espinhos, inaugura uma rica erudição simbólica centrada na sefirá de Malkhut, a Congregação de Israel. Todos os comentaristas convergem ao revelar que essa rosa representa não apenas beleza espiritual, mas também tensão entre julgamento e misericórdia. A flor, com suas treze pétalas internas, personifica os treze atributos de compaixão que envolvem e protegem a Malkhut das forças impuras. As cinco pétalas externas funcionam como barreiras que, conforme o mérito de Israel, se abrem ou se fecham. A associação entre a flor e o nome Elohim — especialmente pelas treze palavras entre suas primeiras ocorrências na Torá — fortalece a noção de que o próprio texto bíblico está codificado com fórmulas de proteção espiritual. Os estados de katnut e gadlut revelam o desenvolvimento da Malkhut de um ponto receptivo, frágil e escondido, para uma entidade madura e plena, capaz de se unir ao Ze’er Anpin e retransmitir a luz para os mundos inferiores. Assim, a shoshaná não é apenas um símbolo poético, mas um mapa estrutural da emanação divina, da presença da Shechiná e da interação entre os mundos superiores e o mundo dos homens.
Elizeu A.S